quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Entrevista com HELLNATION, publicada no UMA PARTE ZINE #4 – 2001.
Perguntas por Allan.
Respostas por Ken.

A letra de “College Town Revolutionary” tem algum significado especial ou pessoal? Parece ser direcionada a alguém. Fale um pouco desta letra.É apenas sobre algumas pessoas que eu conheci uma vez, que lêem alguns livros sobre qualquer coisa política e pensam que já são peritos em tudo e que têm as respostas. Quando eles perceberem que a vida é muito mais complicada do que slogans de punk rock eles irão cair fora e ainda haverão pessoas ruins no punk.

Você é punk ou policial? Você é fã de policiais? Você vê os policiais como inimigos, você os teme ou apenas ignora-os? Quando eu estou próximo de policiais eu fico muito paranóico, mesmo que eu não esteja fazendo nada de errado. Isso vem da experiência que mesmo que você não esteja agindo errado será como um carneiro castrado que pode tentarou não.

“I dont know how to act, I don’t know what is right”, o que você quer dizer nesta letra (Kiss of Death)? Você está desacreditado com tudo, a que você se refere?Está basicamente dizendo que eu não me importo realmente em satisfazer qualquer um, porque não importa o que você faça que haverão centenas de críticos. Geralmente os críticos não fazem nada, mas eles se sentam e criticam.

O que houve com o outro baixista, porque saiu? Antes desta mudança na formação a banda era estável, ou sempre sofreu com estas mudanças? O Chris parece que "acelerou" mais ainda o som da banda.Ele se casou e sua vida ficou muito ocupada. Também inicialmente eles estavam pensando em ir morar na China. Nós ainda somos bons amigos e atualmente podemos começar uma banda aqui por perto. Hellnation era uma banda de 4 pessoas inicialmente e Al queria tocar baixo ante de ir para a bateria. Chris apenas entrou para tocar na turnê européia. Se as músicas estão um pouco mais rápidas isso é provavelmente porque nós estamos tocando-as há muito tempo, desde que nós as gravamos originalmente. Assim, elas vão acelerando naturalmente com o tempo.

“Living Dead” fala sobre a vida de quem trabalha horas mais horas, durante anos e não vê a vida passar, esquece de tudo, isso por causa do dinheiro. Uma pessoa assim com certeza não vive feliz. Você se considera um cara feliz ou sua vida é este inferno, como na letra?Atualmente eu tenho tentado ser razoavelmente positivo. Eu tento fazer a minha vida o que eu quero dela tanto quanto eu posso. Eu sou uma pessoa razoavelmente feliz, sou do tipo de emocional que balança de acordo com o que acontece. As letras são apenas reflexos das coisas que nos afetam.

“this is punk rock not the boy scouts”, entendo isso como uma referência a pessoas na cena controlando a vida de outras, o que você tem a dizer sobre política de cena?Eu penso que eles são pessoas completamente estúpidas, para mim um reflexo de cliques de estupidez da nossa sociedade reguladora que qualquer um no punk diz que odeia.

E a letra de “Aaron Pryor” o que fala? Não consegui entender muito bem.Ele foi um grande boxeador de nossa cidade, um dos melhores mas nossa cidade é muito branca e nunca lhe daria este crédito merecido. Se ele fosse branco esta cidade poderia ser louca por ele.

Você gosta de ler? Que tipo de leitura? Considerando fanzines como um tipo de leitura alternativa e contra cultural, o que você acha necessário (conteúdo) a um fanzine e o que você vê como desnecessário para quem lê?Yeah, eu adoro ler, atualmente estou um pouco ocupado e não estou lendo tanto. Ultimamente eu tenho me interessado em ler biografias. A última que comecei foi a de Muhamed Ali! A única coisa que eu acho que é necessária para um fanzine é que ele deve ter personalidade. Não apenas propagandas e resenhas da Epitaph Records que ocupam uma página inteira. Aqueles que quando datilografam paracem um desperdício de árvores.

Há quanto tempo você está envolvido com a cena punk/hc? O que o motivou a se envolver a estar ligado a ela, e o que o motiva permanecer nela? Como você vê o HC hoje comparado a quando você se infiltrou nele?Eu comecei a descobrir o punk por volta de 1985. O que foi principal para que eu me encontrasse foi o fato de haver ótimas pessoas e os ótimos momentos que passo com elas. E também as grandes bandas que vinham ao longo disso. Para mim a maior diferença é como a cena parece muito mais rachada em facções agora. Todos tem seus próprios pequenos grupos.

Fuck on the Beach, Romantic Gorilla, Flash Gordon, são bandas japonesas que eu adoro e todas já tiveram lançamentos em seu selo. As bandas japonesas para mim são sinônimo de HC rápido e divertido e são as bandas que eu tenho me interessado mais em escutar. O que você tem a dizer sobre estas bandas e o HC japonês?Eu amo isso! Eu pude me reunir com todas essas bandas quando eu fui para o Japão e eram todos grandes pessoas e super legais, para não mencionar que são apenas grandes bandas. Eles possuem apenas um senso de energia surpreendente. HC japonês eu provavelmente escuto mais do que qualquer coisa. Parecem ter uma abundância de ótimas bandas constantemente. O novo cd do PaintBox me matou.

Com certeza você conhece algo do Brasil, pois afinal já até lançou um 7” do No Violence há alguns anos atrás. O que você sabe atualmente do hardcore brasileiro, o que você gosta nele?Eu realmente me sinto ignorante sobre o Brasil. Para mim eu penso que o hardcore no Brasil tem uma energia crua realmente boa. Atualmente eu tenho escutado muito Mukeka Di Rato, Mahogany, o novo CD do No Violence e algumasfitas coletâneas que eu peguei. Eu estou realmente esperando para ver estas bandas ao vivo!
Os discos (Cds) do Hellnation, sempre apresentaram músicas novas, quando se ouvia regravações, eram de músicas que saíram em coletâneas, 7”s, etc. Uma coisa que não entendi foi o porque de se lançar um CD (“Cheerleaders for Imperialism”) contendo algumas músicas novas mas muitas músicas que saíram em outros CDs. Poderia explicar?Nós gravamos isso com Chris do Spazz que estava conosco em nossa turnê na Europa. Nós queríamos tentar um estúdio diferente e gravamos nosso set list e 3 músicas novas. Nós não tínhamos nenhuma pretensão de lançar isso e quando nós voltamos da Europa Chris nos perguntou se estávamos interessados em ter isso lançado pela Slap A Ham. Nós achamos que estagravação saiu muito boa mesmo. Várias pessoas não tinham os Eps e as músicas soaram tão boas que fizemos isso.

Por que você é um “fucked up mess”??Eu não me encaixo nisso. Eu acho que algumas pessoas são assim comprometidas com dinheiro e em fazer mais dele, ou serem populares. Se você não se conformar todos pensarão que você é um fudido. De maneira que seja o que nós somos.
O que você tem a dizer sobre os “emo crybabies.”? Já imaginou o Hellnation divindo um disco com um banda deste tipo, ou uma banda dessa lançando algo pela Sound Pollution?Eu apenas acho que a música emo é absolutamente terrível e não sei o que isto está fazendo no punk rock. Isso soa como "college rock" para mim.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Spazz


Uma parte zine - Relembrando parte 2

Entrevista com SPAZZ, publicada no UMA PARTE ZINE #4 - 2001.
Perguntas por Allan e Mozine.

Power violence = Spazz??? Quem começou com o “power violence” em sua opinião? Ou então, quem começou a usar este nome para este tipo de som?
Bem, eu odeio o termo realmente, mas o grupo de amigos que existe entre os membros de CAPITALIST CASUALTIES, MITB (Man is the Bastard), CROSSED OUT, NO COMMENT, MANPIG, etc usa este termo. Foi criado pelo MITB, e usado no EP split com Aunt Mary. Eu odeio o termo, atualmente isto é usado apenas para se referir ao hardcore rápido.

PC ou não PC? “SxE” ou “drunk as fuck”? O que você acha dessas subdivisões?
É usado por aqueles que sabem que eles tem fudido com a moral/ética para atacar aqueles que fazem merda. Chamar alguám de racista não é PC, isso é um problema social, não político. Eu sou sxe, mas não ligo se você bebe. Só não foda um show. Subdivisões ocorrerão à medida que nós continuarmos a usar termos que nos dividem( "power violence").

“Crack é uma boa comida”?
Yeah veja que o Spazz é uma grande piada... a maioria das letras não têm sentido, é apenas “zoação”... Sendo assim, crack é uma boa comida.

O que você acha das letras do Spazz? Qual a importância do bom humor na banda??
Apenas para se divertir e não para levar tudo a sério. Você pode ainda ser brutal, mas continuar sendo divertido!

As músicas mais antigas do Spazz tinham letras que pareciam ser mais sérias. No Crush Kill Destroy as letras soam totalmente hilárias, sarcásticas e descompromissadas. Porque esta mudança? O que você acha da política no hardcore, o que você considera política? O Spazz é uma banda política??
SPAZZ nunca foi uma banda política, e nossas letras atualmente estão mais sérias no “Crush” do que antes. Eu tenho minhas próprias convicções políticas.

Danliftingbanner, vocês acham que discursos políticos de uma banda em shows são perda de tempo?? O que fala esta letra?
Eu não me lembro do que se trata a letra... Eu acho que é uma canção anti-emo.

Falando de letras, quando você escuta uma banda você se preocupa em ler as letras dela? Muitas bandas consideradas power violence, escolhem um caminho onde as letras não têm compromisso político, o que podemos chamar de “for fun”, isso para mim não é um problema, o que temo é que isto faça originar bandas que além de descompromissadas passem a ser desrespeitosas, racistas, xenofóbicas e sexistas. O que você acha deste tipo de preconceito no hardcore? Você conhece alguma banda preconceituosa que se considere power violence?? Você lançaria uma banda deste tipo??
Bem, eu acho que o primeiro princípio do punk é faca você mesmo... E muitas bandas perderam esse espirito. Mas também, porque escrevem músicas que simplificam os fatos sociais. Você se sente mais burro do que com raiva. "Meat is murder".... Eu sou vegan, mas essa é a mais estúpida frase. Ainda que os punks resgatem o passado político e levantem uma "bandeira" mais adequada para a sua banda é menos provável do que termos uma discussão política. Ate lá as bandas continuarão tocando "smash the state" e "racism sucks".

Algumas pessoas falam sobre “colonialismo no HC” isto é como bandas dos EUA e pessoas que rejeitam bandas que cantam em outras línguas, e não têm um intercâmbio, não fazem trocas, etc... outro dia destes SHELTER esteve em tour, e muitas pessoas odeiam isto, porque os caras apenas querem dinheiro e “turismo sexual” e não querem nem saber de intercâmbio, trocar material, saber sobre novas bandas e coisas daqui, poderia falar um pouco sobre isso? Dê sua opinião.
Bem, quem disse que o SHELTER é punk? (N. do E.: ahahahhaha) Eles estão na Victory... fodam-se. Eles são ridículos de qualquer forma. Mas até mesmo os punks FVM (DIY) costumam dizer "cara, nós fomos tocar nesse país do Terceiro Mundo”, é mais uma forma de imperialismo...Imperialismo cultural. Espero que um dia bandas como o Discarga e o Newspeak possam fazer uma turnê aqui nos EUA.

“Macho man Savage, King de la Roca” o que é isso??
Nós estamos ficando burros. (N. do E.: continuo sem saber o sentido disso.)

Plutocracy, What Happens Next?, Anciente Chinese Secret, Stikky, Capitalist Casualties, são as bandas que eu sei que contam com membros do Spazz, além destas existem outros projetos? Poderiam me falar mais destas e de outras bandas de vocês. Como vocês conseguem tempo para tocar em tantas bandas??
Eu toco em cinco , e tem mais uma só no projeto. Isso é a minha vida, mas sou mais fã do que membro de banda. Eu adoro ver bandas e cantar junto é bem melhor do que tocar.

Quem é Bob Dee??
"Bobby dee" era sobre um garoto que estava em uma loja de discos e entrou numa briga para apenas tentar ser gentil com um vendedor de uma outra loja. Dan, viu tudo acontecer, e acabou que Bobby Dee foi assassinado sem nenhuma causa aparente.

“4 Times a Day” fala do sofrimento e liberação de animais. Qual a posição de vocês sobre liberação animal?
Bem, eu sou vegan, mas eu também acho que o movimento pela liberação animal e às vezes estúpido. Os slogans que as pessoas usam para convencer outras de suas idéias são retardadas.

Quais as suas bandas favoritas mais novas?
DISCARGA, RAZORS EDGE, JELLYROLL ROCKHEADS, LIFES HALT, há nomes demais para citar.

Fale-me sobre sua cena local, banda, zines, casas de shows e figuras excêntricas da cena.
É realmente bom na SF Bay Area (São Francisco), algumas bandas legais, muitas turnês, algumas casas de shows. Eu espero que tenhamos uma loja de discos F.V.M. aqui, pois não há lugar para comprar discos.

Você conhece alguma coisa do Brasil? Alguma banda/zine/gravadora? O que você acha de lançar uma banda brasileira por sua gravadora?
DISCARGA manda.

Em “Raging Hate, Fear, and Flower Power Violence” vocês dizem: “Hippie extermination, Emo flatulation, Hirax fascination, Pitchuli condemnation”. O que fala essa letra??
Anti hippie, anti-emo, hirax worship.

Quando nós poderemos ver Spazz ao vivo no Brasil?? (Que merda!!! A banda acabou!!!!)
Bem, por mim estaríamos aí amanhã. Fale com os outros caras e então estaremos aí. WxHxNx irá tocar aí ano que vem. Uma turnê foda com o Discarga!!!!

O que você acha do fanatismo de certas pessoas que oferecem altos preços por material raro de algumas bandas? O Spazz possui “fãs” deste tipo? Existe algum disco do Spazz que é super valorizado? Você também é um fanático capaz de pagar altos preços por um disco?
Eu odeio a eBay, ela tem quebrado as vendas de discos, os garotos europeus estão pagando caro por discos americanos de hc antigos, isso é estúpido. Eu odeio isso. E eu sei que tem garotos pagando muito caro pelos CDs do Spazz, eu desejava que isso não fosse assim...

sábado, 20 de setembro de 2008

Russian School of Ballet

Foto tirada pelo Lucas, na Verdurada de SP.

Uma parte zine - Relembrando parte 1.

Fui olhar meus backups e encontrei as pastas com os últimos números do meu zine (Uma parte), nem me atrevi a ler algo para não em deparar com algo que possa achar engraçado ler hoje e que tirasse minha empolgação de republicar isso. Fiz um CTRL + C & CTRL + V e vou colocando aos poucos por aqui. A Mila já havia me sugerido publicar as coisas que escrevi por aí. As que contribui em sites foram perdidas em um HD, mas os mais antigos estão aqui.

Dedico àqueles que acompanhavam este meu zine e também àqueles que conheci através dele.

Antes de ler, considere o contexto da época, empolgação juvenil, entre outras coisas. :)

Para começar RUSSIAN SCHOOL OF BALLET.

Entrevista com RUSSIAN SCHOOL OF BALLET, publicada no UMA PARTE ZINE #4 - 2001.
Perguntas por Mozine e Allan.


Vocês estiveram tocando em alguns estados, há poucos meses atrás, conhecendo novos lugares, novas pessoas, revendo velhas amizades. Gostaria que falassem como foi, sobre o intercâmbio, os shows, etc.
Tocha – Bem, eu posso dizer que pessoalmente foi a melhor experiência que eu já tive em todos esses anos tocando em bandas. Nós ficamos viajando de carro pelo Brasil por duas semanas e tocamos cinco shows em lugares diferentes. Foi muito importante para nós perceber o quão solidárias as pessoas foram conosco em cada parada. Nós ganhamos casa e comida de muitas pessoas que víamos pela primeira vez. Todas as coisas que aconteceram me fizeram desenvolver um grande senso de comunidade punk, que as vezes fica meio confuso em minha cabeça no meio de tanta confusão que é o ‘punk’ hoje em dia. É impossível descrever aqui todas as experiências que tivemos no caminho, mas com certeza todos os shows foram muito bons e nós nos divertimos muito. E, como nós dizíamos em todo show, essa experiência é muito importante para mostrar as pessoas que as coisas podem ser feitas. Qualquer pessoa pode pegar sua banda e com alguns contatos, tempo livre e um pouco de esforço sair por aí fazendo shows. É só uma questão de um pouco de organização (nós que não somos nem um pouco peritos nesse quesito conseguimos, então qualquer um consegue).
O Resto – O Tocha disse tudo. E longa vida à estrada.

“De onde isso veio? Para quem meu dinheiro vai? Eu realmente preciso disso?” São questionamentos importantes e muito válidos, mas você não acha que a pessoa pode chegar a um ponto em que ela começa a se ver “cercada”? Até que ponto esta preocupação (estes questionamentos) podem ser adicionados ao cotidiano sem prejudicá-la, sem “cercá-la”?
WE – Ninguém nunca disse que seria fácil meu caro... Quando isso foi escrito no encarte do nosso cd, não era para expressar algo que nós gostaríamos que as pessoas fizessem. Era mais uma expressão da nossa angústia porque é assim que nós nos sentimos cada vez que eu gastamos dinheiro em algo. Certamente seria mais confortável simplesmente ignorar tudo isso e ir sair por aí gastando dinheiro no que der na telha. Mas se torna mais complicado dado o momento da nossas vidas em que nos encontramos, no qual isso já não é mais possível. E, ao contrário do que é colocado na pergunta, é muito mais fácil alguém se sentir “cercado” não por esses questionamentos, mas pelo seu inverso, a eterna imposição de sempre comprar mais e mais. É realmente angustiante quando percebemos que as pessoas ou não sabem, ou não se importam com o que estão engolindo, vestindo, consumindo desde que isso lhes seja mais cômodo, ou ainda, lhe traga um maior status social. Quantas vezes no seu dia a dia você não foi coagido a usar aqueles maravilhosos modelitos da Zapping, ou se sentiu estranho porque você não come aquele saborosíssimo chocolate importado. Você encontrou abrigo para tudo isso no hardcore? Hhmmm mas onde estão os seus DC Shoes que o deixarão muito mais estiloso, e como você ainda consegue viver se você ainda não comeu aquele outro saborosíssimo chocolate importado (dessa vez em sua versão vegan)?
Dentro da lógica capitalista, gastar dinheiro é uma certa espécie de exercício de poder. Se é imposto para você dentro da sociedade o papel de mero consumidor de produtos, eu acho que nós devíamos ao menos tentar consumir apenas as coisas de que realmente precisamos, e que realmente apoiamos.
E, de qualquer forma, se o pequeno pulha que não se importa com como as grandes corporações estão fodendo com os seres humanos iguais a ele (mas de certa forma muito melhores) continuar falando que se importa, e usando isso como um apoio para sustentar sua consciência depravada, não se preocupem, nós continuaremos usando nossa arte autodestrutiva para desbancar suas mascaras, como no caso do jacaré perseguindo o neo-hardecoreano modelito ultra-novo.

Sua empregada escuta hardcore e fala sobre revolução, e aí?
WE – Esse é outro tópico importante, as pessoas dentro do hardcore costumam precisar da ilusão de que estão participando de algo revolucionário. Entretanto nos parece que, ao menos no Brasil, hardcore não passa de diversão para nós garotos brancos de classe média. Existe uma grande ‘romantização’ da ‘revolução’, que no fim das contas a torna um simples paliativo para que você consiga dormir tranqüilo, antes que a idade de deixar tudo para trás chegue e você arrume um emprego e uma família. As pessoas ficam falando sobre uma revolução (que nunca chega) e divulgando suas idéias ‘revolucionárias’ quase que como uma imposição do seu papel de ‘hardecoreano’. Assim elas podem se sentir ativas dentro da ‘cena’ e manter seu status de roqueiros rebeldes ‘politicais’. Porém tudo isso costuma ter muito pouca relevância dentro da individualista vida cotidiana das pessoas. Por serem garotos brancos de classe média, elas apenas continuam cumprindo seu papel de garotos brancos de classe média dentro do estabilishment. E se sentindo mensageiros de uma elite cultural que tenta alertar a massa que, como zilhões de letras de hardcore costumam dizer, se recusa a “abrir os olhos”. E se você é um garoto hardecoreano branco de classe média rodeado de apenas garotos brancos hardecoreanos de classe média as vezes fica difícil superar a condição estagnada e seguir adiante, portanto consideramos importante continuar jogando um pouco de merda na cara das pessoas. Inclusive na nossa.
Aproveitaremos esse momento para jogar na roda um outro tópico importante para nossos olhos. Porque as pessoas tem tanto medo de se auto-denominar “PUNKS” em nosso meio, e apenas se referem a ele como “meio hardcore”. Com mil diabos! Somos todos punks! Desde o início, quando éramos garotos que ouvíamos punk rock hardcore tosco e/ou melódico e estávamos acabando de montar nossas primeiras bandas com nossos vizinhos. Vamos retomar as ruas e retomar o punk, porque é o que somos no final. E além de tudo, “hardcoreano” é um termo horrível.

O que você tem a dizer sobre os zines nacionais, o que você destaca, e coisas que têm se tornado massantes?
WE – Fora algumas exceções, os zines têm realmente se tornado chatos, e parecem muito mais, como eu já disse na questão anterior, ser um veículo para manter tranqüila a consciência do nosso amigo roqueiro. Porém os zines são umas das mais importantes e fortes formas de expressão da comunidade punk, e não nos sentiríamos bem repreendendo ninguém por fazer algo tão positivo. Mesmo que este acabe por muitas vezes sendo muito inocente, ele ainda é uma maneira de divulgar suas idéias de maneira não corporativa. E, é importante lembrar que muita coisa que hoje em dia não tenhamos paciência de ler, isso foi durante muito tempo muito importante para nós.
Bom, existe o sério problema de consumo também. Durante nossas andanças verificamos que muito mais garotas comprando zines em comparação com os garotos (apenas um dado estatístico, mas...). As garotas aparentemente tem essa tendência de ir mais fundo em certos momentos. E isso quando alguém consome zines. De alguma maneira alguém conseguiu criar uma teoria de “não paga para o cara que tá tentando passá os ideal dele, porque se ele qué passá os ideal ele tem que passá de graça, o cuzão”, mas esses são apenas poucos e insanos. A grande maioria dos punks de hoje simplesmente acha que sabe demais e que não tem mais nada a aprender, nem nada interessante pra ser lido. Estes, ainda que sabendo conscientemente que a “indústria” zineira punk serve como imprensa independente, coluna social, arquivista do momento musical, levantadora de questões polêmicas, entre outras funções, de toda uma contracultura, tende a, inconscientemente ignorar tudo isso e levantar o nariz para o alto.
Decididamente precisamos de zines mais grossos, mais substanciosos, mais polêmicos, mais irônicos, mais sarcásticos, com maior tiragem e maior regularidade, e sem dúvida em maior quantidade.

Quem é mais punk? um garoto feliz que comprou uma camisa do Green Day e vai dançar num show de punk rock sexta-feira a noite ou vocês?
WE – Nesse caso a questão que você propõe me parece muito mais de semântica do que de discussões sobre o que é o não punk. Os códigos que nós usamos para nos designar punks são diversos dos códigos que o garoto feliz da questão utiliza para se designar punk. Portanto não se trata de quem é mais ou menos algo, tendo em vista que estamos lidando com coisas diferentes. Só para dar um exemplo simples, se você diz que você é roqueiro, o que de certa forma nós todos somos, isso não significa que você gosta do Barão Vermelho e sai por aí cantando Bete Balanço.
E nós também vestimos as camisetas dos nossos “greendays” e dançamos nos shows de punk rock de sexta-feira à noite, se vocês querem saber. Nós somente não somos mais felizes.

Como pode um jovem gostar de ManLiftingBanner e ao mesmo tempo amar outras bandas, digamos assim, "hc fast - power violence as fuck", como por exemplo o Spazz com a letras como "DanLiftningBanner"? Você acha que existem certas pessoas/bandas com "status" de fazer o que quiserem e serem aceitas, enquanto outras façam o que fizer, serão boicotadas?
WE – É óbvio que isso existe, veja o Mozine, por exemplo, ele pode ter uma banda horrível como “Os Pedreiro” e ainda assim vender muitíssimas de suas demos graças aos seu status adquirido na cena (Direito de resposta, conforme Lei 666, Pá, Pow: Mozine: é verdade! E aguardem para 2001 o espetacular cd split OS PEDRERO/RUSSIAN SCHOOL OF BALLET, uma fusão feroz e alucinante de estilos. info: mozine@escelsa.com.br). Nós próprios temos nossos projetos para um futuro extremamente próximo. Quem saberá em quem confiar de verdade hoje em dia? Muito do “status” do punk é baseado em quanto as pessoas conhecem pessoalmente umas das outras e de suas intenções e na maneira como rumores e opiniões pessoais voam através de bytes ou do correio ou de telefonemas. Bom, isso se tratando de punk nacional. O punk lá de fora é complicado de se julgar e sinceramente... não ligamos a mínima.

O que acha do hc fast por hc fast? Tocar rápido por tocar?
WE - Bleh... Não gostamos da pergunta. Nos recusamos a responder.

O Russian School tem letras impressionantes, que me agradam muito. O que vocês acham que essas letras de vocês vão mudar no mundo ou na sociedade? Você acredita q uma pessoa de fora de cena (use a palavra que quiser, cena, circuito, cenário, movimento) hardcore, teria como entender uma musica de vocês?
WE – De certa forma, vemos as letras (e todo o resto de expressão artística que produzimos com a banda, etc) não tanto como uma maneira de mudar o mundo, mas muito mais como uma necessidade de por pra fora o que precisamos desesperadamente por pra fora. De certa forma é como poesia. E é muito como música tradicional. A música punk é música da cultura punk, assim como música flamenca é música da cultura de determinada parte da Espanha; mas isso não quer dizer que um espanhol não punk não possa gostar de música punk, só deus sabe o gosto dos espanhóis. Acreditamos que qualquer um tem o potencial de entender nossa “arte”, sendo ela “arte”.
Mas, tocando no assunto de “mudança do mundo” e punk rock, achamos que o punk não é tanto uma força revolucionária quanto um meio, uma contracultura, dentro do qual idéias revolucionárias vão encontrar terra fértil pra crescerem e irem em frente, e dessa forma gerar revolução. Com mil demônios, ninguém pode dizer que o punk nunca mudou nem vai mudar o mundo com todas essas manifestações acontecendo em todo lugar com a freqüência que estão acontecendo. Nada disso seria possível sem a fertilidade do meio contracultural que o Punk representa.

Comente sobre a política de distribuição/preços/venda/divulgação da L-Dopa. Vocês acreditam que poderiam ser um selo auto sustentável e um dia poder largar ternos e gravatas, e viver de lançar cds/zines/livros/discos?
WE – Bom... Com certeza nós pretendemos nos desvencilhar do aparato corporativo e seguir em frente vivendo da anti-arte punk. Mas o futuro, quem dirá? Queremos acreditar que poderemos mas realmente não ligamos a mínima se vamos ou não conseguir nos manter.
Quanto a política de distribuição/venda/divulgação/preços do material do coletivo L-dopa, tentamos fazer tudo o mais barato possível, e deixamos quem quiser distribuir distribuir, desde que distribua barato, ou então pelo menos pague adiantado. Quanto a distribuição de material alheio, cada caso é um caso e preferimos tratar isso pessoalmente, nosso contato vai aparecer em algum lugar nas paginas dessa entrevista, então fique atento.

O que os motiva a lançar uma banda, e acreditar no trabalho a ser lançado. Tipo, o Russian School of Ballet é uma banda nova, que nunca lançou nada e vocês se esforçaram para lançar em CD, mesmo sabendo que era um risco, que o CD poderia “encalhar”. Aproveite e fale sobre os projetos do selo e da banda.
WE – A gente preferiu lançar um cd em vez de uma “demo” pela funcionalidade. Maior qualidade, preço baixo (no longo prazo), e mais espaço pra arte. Achamos que ninguém precisa “ficar conhecido” pra lançar um disco. Se não tentássemos nunca iríamos conseguir. Então vão em frente garotos e façam vocês mesmos.
Quanto a projetos paralelos e lançamentos, a L-dopa pretende lançar num futuro muito próximo as gravações póstumas do Libertinagem e do WhiteChristianDisaster, e tem segredos que são inimagináveis, mas só o tempo dirá se tudo vai dar certo; Nils tem o Projeto Burguês de Felicidade; Mário tem o Kubark; Tocha e Lucas tem o The Evil Idols; e o Sandro vai ter um filho no fim do ano.